A Estratégia Nacional ESG para PME Exportadoras, que foi ontem apresentada pelo Secretário de Estado da Internacionalização, Bernardo Ivo Cruz, durante uma conferência promovida pela AICEP, poderá mobilizar 1,2 mil milhões de euros, «dependendo da adesão das PMEs e associações empresariais».
A estratégia divide-se em três fases, sendo a primeira voltada para PMEs exportadoras, «por serem estas as que são mais diretamente impactadas», indicou Bernardo Ivo Cruz.
As empresas serão «segmentadas apenas pelo seu grau de exposição à internacionalização», sublinhou, «para ajudar no seu processo de incorporação de indicadores ESG, contribuindo para repensar e ajustar as suas práticas ambientais, sociais e de boa governação, para definir e adotar processos mais sustentáveis que possam resultar em economias de custo e vantagens comparativas, trabalhando colaborativamente nas suas cadeias de valor, passando a olhar para os fornecedores como parceiros e adotando práticas transparentes, éticas e responsáveis na tomada de decisão, bem como junto dos fornecedores e da sociedade em geral, e mitigar os riscos legais e reputacionais», explicou o Secretário de Estado da Internacionalização.
«Pretendemos reforçar a competitividade e a reputação das nossas empresas exportadoras no mercado internacional», resumiu Bernardo Ivo Cruz.
A primeira fase, a que terão acesso as empresas registadas na AICEP, começa em outubro e está voltada para a capacitação das empresas, com um programa de formação genérico sobre ESG, a que se seguirá um programa de formação específica por atividade económica em parceria com as associações empresariais de cada um dos sectores.
Posteriormente, terá lugar um programa de autodiagnóstico, diagnóstico e comunicação dos resultados. «Este serviço consiste sobretudo na elaboração de questionários e matrizes de materialidade para diagnósticos de maturidade e desempenho ESG. Estas ferramentas têm o propósito de compreender o perfil e exposição ao risco ambiental, social e de boa governação das empresas», indicou.
Numa última fase, «pretendemos fazer uma cadeia de valor entre as grandes empresas e as PMEs», com programas de mentoria e troca de experiências entre gestores customizados para as necessidades das empresas.
A estratégia contempla ainda um roadshow e campanhas promocionais sobre o perfil de sustentabilidade do país e das PMEs, tanto em Portugal como nos mercados externos.
Uma sociedade mais atenta
De acordo com Bernardo Ivo Cruz, «a participação das PMEs no comércio externo terá muito mais sucesso quanto maior for o seu compromisso com as boas práticas de ESG. Daí a importância e pertinência desta estratégia para as PMEs exportadoras», destacou, depois de ter lembrado que as PMEs representam 99% do tecido empresarial, empregam 4 milhões de pessoas e são responsáveis por aproximadamente 50% das exportações nacionais
Em Portugal, segundo um estudo da Universidade Católica citado pelo Secretário de Estado da Internacionalização, 98,4% das empresas e 93,5% das PMEs concordam que a sustentabilidade terá benefícios para a sua atividade e para o seu negócio, e 96,8% das grandes empresas e 87,1% das PMEs concordam que a sustentabilidade poderá melhorar substancialmente a sua competitividade. Em junho passado, o relatório voluntário nacional sobre a execução dos ODS em Portugal apresentado às Nações Unidas coloca o país em 18.º lugar num conjunto de 163 países no cumprimento dos objetivos de desenvolvimento sustentável.
Questões como a crescente, e mais rigorosa, legislação europeia, exigências ao nível do financiamento, necessidade de reter talentos e as próprias tendências do mercado e de consumo são motivos para que as empresas tenham cada vez mais em consideração critérios ESG no seu dia a dia.
Mesmo no nosso país, segundo o Barómetro 2023 da perceção da sustentabilidade em Portugal, realizado pela Mastercard, 87% dos portugueses manifestaram interesse em saber a pegada de carbono das suas compras, 80% são sensíveis à política de sustentabilidade dos comerciantes ou fornecedores dos bens que consomem e 52% já deixaram de comprar produtos devido à má reputação ou mau comportamento dos fornecedores ou comerciantes em relação às questões ambientais.